Why do these tears come at night?
As luzes do espelho à sua frente lhe encantavam, enquanto sentia um leve desconforto ao ter seus cabelos repuxados devido aos nós que formavam ao ser penteado. Seu cabelo sempre fora fininho, quebrava fácil.
A maquiadora sorria, sentia orgulho de poder maquiá-la e penteá-la. Quem não queria colocar no curriculum que trabalhara com uma das maiores estrelas do mundo?
Já ela, não podia dizer o mesmo, pois a própria não se sentia uma estrela. Olhou-se no espelho ainda de cara lavada, pensou que poucos tinham a oportunidade de vê-la daquela maneira, “limpa”.
Tentou se lembrar da última vez que saíra em público daquela maneira e não conseguia. Perdera a confiança em si mesma sem maquiagem ou photoshop. Não se sentia bem, muito menos bonita.
A maquiadora tentava puxar assunto, mas ela não estava para papo naquele dia. Por quê?
Em poucas horas subiria ao palco para receber o prêmio de “Mulher do Ano”, por seus feitos como atriz e cantora, pela instituição de caridade que possuía e por servir de exemplo aos jovens por ter “largado” as drogas.
Quanta mentira. Vivia uma mentira. Era de mentira.
A instituição que criara fora jogada de marketing. Seu empresário esquematizara tudo, pois faria bem à sua imagem. Ela mesma só aparecia lá para fotos promocionais.
As drogas? Ganhava-as desde que começara no mundo da música. Ninguém fazia ideia da vida sacrificante que levava. E então caiu na mídia e a ideia, novamente do empresário, de superação surgiu. Bingo! Bombou novamente, seus vídeos voltaram a ser os mais visualizados do youtube e agora estava lá: sozinha em frente a um espelho que só lhe mostrava que, na verdade, era um fracasso. E só ela sabia disso. Só ela sentia isso.
Quase que poeticamente uma lágrima escorreu de seu olho direito. Não conseguiu segurar. Apenas uma. A maquiadora fingiu não ver. Ela agradeceu mentalmente.
Lembrou-se de Charlie. Seu então namorado pré-fama, que não aguentara o baque das mudanças da namorada agora estrela do Billboard. Na época ela chorara. Mas aquilo estava previsto. A vida de um artista era solitária. Sempre seria.
O que mais teria de perder? Para ter. Ter o que? Uma vida de sonhos, uma vida invejável e admirada, mas ainda assim uma vida que ela sempre saberia ser de mentira.
She’s so lucky, she’s a star
But she cry, cry, cries
In her lonely heart, thinking
If there’s nothing missing in my life
Then, why do these tears come at night?
Quiteria